domingo, 27 de julho de 2014

1º Balanço da pré-época: O Benfica tem treinador. O Benfica talvez venha a ter equipa. O Benfica não tem Presidente.


Depois do final trágico da época de 2012/2013, o início da seguinte parecia ser a mãe de todas as pré-epocas deprimentes.

Puro engano…

Neste autêntico duche escocês de motivos de euforia e de depressão, ou montanha russa de emoções, em que sócios e adeptos têm andado à reboleta, ainda nos estava reservado um início mais triste.

Já tenho, feliz ou infelizmente, algumas décadas de futebol no bucho. Já assisti a muita destruição de equipas vencedoras, mas algo parecido com o actual PDEC (Processo de Destruição Em Curso de Equipa Campeã) nunca tinha visto com estes olhinhos.

Mas nem tudo é mau.

Esta pré-epoca está a mostrar, para quem ainda tinha dúvidas, que Jorge Jesus é, de facto, um grande treinador. Os novos jogadores estão a ser bem integrados, o modelo e os processos de jogo estão a ser assimilados, a equipa começa a apresentar uma movimentação consistente, a atacar e a defender, embora ainda com naturais e compreensíveis deficiências individuais e colectivas.

Ou seja, naquilo que depende do trabalho do treinador com a equipa, já foi possível reconhecer, neste jogo com o Ajax, muito do Benfica das últimas épocas. Mas como diz, e bem, Jesus, não basta muito trabalho, também é preciso haver qualidade. E é ineludível a falta que faz a qualidade de um Oblak, de um Garay, de um Siqueira, de um Enzo (se sair, como tudo indica), de um Markovic, de um Rodrigo. Qualidade cuja falta dificilmente poderá ser colmatada, pelo menos no curto-médio prazo: é muita gente e muita qualidade a sair ao mesmo tempo!...

No entanto, o Jogo com o Ajax (obrigado, Eusébio, pela tua presença, e desculpa terem faltado 40.000 pessoas) deu indicações de que poderemos vir a construir uma boa equipa.

O resultado foi enganador. Em vez de 0-1 poderia ter sido 3-1 ou 4-2. A equipa movimentou-se bem, sobretudo nos primeiros 20 minutos da primeira parte e em grande parte da segunda.

A presença dos ‘velhos’ fez-se notar pela positiva. O Maxi transportou de imediato energia e determinação para a equipa (quem disser mal do Maxi ao pé de mim leva uma paulada!). O Amorim deu equilíbrio e inteligência, como sempre. O Gaitán, agora com o 10 nas costas, é um enorme jogador, a quem falta apenas um bocadinho mais de ‘cabeça’ para ser genial. O Lima apareceu muito bem com as suas típicas movimentações. O Cardozo, jogador que admiro, deu um ar da sua graça, e mostrou-se muito esforçado na tentativa de se adaptar a um modelo de jogo que em nada o favorece. Força Cardozão!

Mas, para mim, o único verdadeiro génio da bola que ainda subsiste no Benfica dá pelo nome de Toto Salvio. Que no meio de tudo isto, Toto, possas, finalmente, ter uma época sem lesões e brindar-nos com o teu futebol feito de enorme inteligência, grande potência e velocidade, e técnica suprema. Que sejas o grande reforço da época de 2014/2015!

Quanto aos ‘novos’, o Talisca parece ser a melhor aquisição. Boa técnica, passe, visão de jogo, rapidez de decisão, bem nas bolas paradas. Se ganhar um bocadinho mais de ‘corpo’ pode vir a ser um caso sério. O Benito tem bons pormenores, talvez mais a atacar do que a defender, onde ainda se perde um pouco. Talvez se faça um lateral esquerdo, com tempo e trabalho. A mesma coisa diria do César, na posição de defesa central.

Não sei se o Ola John é dos ‘velhos’ ou dos ‘novos’, mas sei que é um grande jogador. Grande técnica, potência no arranque e progressão (parece lento, mas não é!), Ola é um daqueles jogadores em que a parte mental tem um peso muito grande no desempenho. É preciso dar-lhe confiança para fazer explodir todas as suas, enormes, capacidades.

O miúdo João Teixeira não engana, é jogador! Por favor, Jesus, ajuda-o a crescer. Não faças com ele o que estás a fazer ao Bernardo Silva (já está metido nalgum ‘fundo’ ou a caminho de algures?...). O João Cancelo é um puro-sangue que, como qualquer puro-sangue, precisa de ser domado, mas não é qualquer um que tem mão para o fazer. Os treinadores da formação não a tiveram, espero que a tenhas tu, Jesus. Ao contrário do Coentrão, talvez possas adaptá-lo de defesa a extremo direito…

Quanto ao Derley, Eliseu e Bebé, não vou pronunciar-me antes de os ver jogar mais vezes.

A sangria da equipa campeã tem sido enorme. Caso Gaitán e Enzo saiam, a sangria será de tal ordem que poderá dar em anemia.

Se não saírem, com o regresso do capitão Luizão, e a aquisição, absolutamente indispensável, de um bom guarda-redes (faz-me pena ver o Artur cada vez mais ‘perdido’), penso que poderemos construir uma equipa capaz de lutar pelas provas nacionais.

A nós, cabe-nos apoiar, apoiar sempre, a nossa equipa e os nossos jogadores, sejam eles quais forem!

Finalmente, o Presidente…

Há na blogosfera benfiquista uma certa esquizofrenia em torno da figura de Luís Filipe Vieira. Para alguns, Vieira é a fonte de todos os males, se não mesmo o verdadeiro ‘Mal’, faça o que fizer. Para outros é um ser perfeito que faz tudo bem, e cujas atitudes têm sempre uma ‘profunda’ e louvável justificação mesmo que, por hipótese, arreatasse a equipa num feixe e a vendesse pelo preço simbólico de um euro…

Não me revejo em nenhuma destas posições. Não porque considere que ‘no meio é que está a virtude’ (detesto esta frase e o que ela significa!), mas porque nada na vida é a preto e branco. Para além do mais, odiar ou incensar Vieira é dar-lhe mais importância do que ele (ou qualquer presidente) efectivamente tem. A única coisa verdadeiramente importante é o Sport Lisboa e Benfica, os seus valores, as suas memórias, o seu futuro.

Dito isto, esta pré-epoca mostra à evidência que o Benfica não tem um Presidente à sua frente. Tem um homem de negócios, um gestor, mas não tem um Presidente! Porque ser presidente de um clube e ser presidente do Benfica, em particular, é muito mais do que saber gerir ou ter uma visão empresarial das coisas.

Ser Presidente do Benfica implica ter respeito e consideração pelos sócios e adeptos, estar próximo deles, saber comunicar com eles, ter coragem de assumir as opções e saber explicá-las da melhor maneira possível.

Quando, na final da Youth League do ano passado, Vieira, espontaneamente, desceu ao campo e levantou do chão os miúdos que estavam destroçados por terem perdido uma final europeia, foi Presidente!!

Quando Vieira vende e desfaz a equipa campeã e não dá uma única explicação aos sócios e adeptos; quando se esconde e não é capaz de dar uma palavra de ânimo e confiança a todos nós, até poderá estar a ser um bom gestor, mas não está, certamente, a ser um bom Presidente do Sport Lisboa e Benfica!!!

Eu até dou de barato que as vendas dos principais jogadores sejam necessárias para o equilíbrio financeiro do clube. Mas expliquem. Digam que é necessário abater o passivo, que é necessário fechar o fundo do BES, ou o que quer que seja. Digam qual é, no actual contexto, a estratégia económico-financeira e desportiva para o clube.

É inacreditável que tenha que ser o treinador Jorge de Jesus a vir a público dizer aos sócios e adeptos para “não se assustarem” e terem confiança porque se está a trabalhar para construir uma boa equipa, embora possa demorar mais tempo!

Onde anda Luís Filipe Vieira? Irá aparecer se o Benfica ganhar a Supertaça? Irá aparecer se o Benfica ganhar ao Sporting na 3ª jornada?

Para mim, é indiscutível o importante (quiçá decisivo) papel que Vieira teve na recuperação do Benfica e na construção das suas infraestruturas.

Infelizmente, porém, para Vieira, os sócios e adeptos são apenas público-alvo para acções de marketing e para ganhar votos em época eleitoral (em tanta obra feita, nem sequer se lembrou de construir instalações de convívio minimamente dignas para os sócios; a saleta actual é pior do que a que existia no antigo estádio…). De resto, não passam de uma ‘massa’ incómoda com a qual é necessário ‘viver’.

O que é mais patético, no meio disto tudo, é a continuação da campanha de angariação de sócios com a imagem de Vieira no canto da pantalha…

Ser Presidente do SLB implica uma ‘grandeza’ que Luís Filipe Vieira, definitivamente, não tem!
 
Espero, sinceramente, poder um dia dizer que, afinal, me enganei, mas, ao fim de tantos anos, as probabilidades são cada vez mais reduzidas...
 
 
 

quarta-feira, 16 de julho de 2014

O Benfica como 'montra', diz o Bebé...


Prometi a mim mesmo manter-me caladinho sobre o processo em curso, de venda por grosso ou a retalho, como preferirem, da equipa vencedora do 33º título nacional. Não quero ser acusado de falar antes do tempo, desconfiar dos nossos ‘líderes’, ser profeta da desgraça, etc., e tal e coiso...

Vou esperar que a bola role, ver a nova equipa, como joga e o que faz, como os grandes mestres alquimistas, gestores, prospectores e produtores de craques, transformam o barro em ouro.

Depois, farei o balanço.

Não quero, para já, concluir, como o Bebé, que “O Benfica é uma montra de ouro. Tem lançado vários jogadores. Espero que aconteça comigo também”.

Benfica reduzido a ‘montra’, mesmo dourada?!...

[Sinto um aperto no estômago…]

[Há tempos, quando fui renovar o Red Pass:

- Eu para o funcionário: ‘Então, como vão as vendas?’;

- O funcionário para mim: ‘Ah, e tal…’

- Eu para o funcionário: ‘A equipa a ser vendida…’

- O funcionário para mim: ‘Todos os que se sentam aí dizem a mesma coisa…’]

 
Portanto, até ver, ‘be quiet’!...


segunda-feira, 14 de julho de 2014

Onze contra onze e no final…


Ganhou a Alemanha.

Contra os meus desejos, mas merecidamente. Foi a equipa mais forte do Mundial.

A final não foi, propriamente, um jogo de futebol, mas um combate corpo a corpo, vencido pela equipa menos desgastada.

A Alemanha não ganhou, desta vez, por ter tido uma superior organização e dinâmica. Ganhou porque foi mais consistente e dispunha de maior reserva de energias.

A Argentina perdeu por carregar mais dois prolongamentos no corpo e pela falta de frieza no momento da angústia face a Neuer. As oportunidades mais claras, de um contra um frente ao guarda-redes, foram da Argentina.

Mas, claro, faltou criatividade. Uma pena, a lesão de Di María, num Mundial em que Messi não chegou em condições de fazer maior diferença. E o Sabella, com Enzo ou sem Enzo, nunca soube resolver o problema do meio campo e a solução de continuidade entre defesa e ataque.

O que fica deste mundial?

Neuer, um monstro, merecidamente o melhor guarda-redes.

Messi é um jogador do outro mundo, mas, neste mundial, o melhor jogador foi Roben. Acho que devia oferecer-lhe o troféu…

Enorme consistência da equipa alemã que, para além das tradicionais qualidades já por demais referenciadas, assenta numa continuidade de jogadores que tem raízes na planificação e investimento da formação (muitos foram campeões de sub-21) e beneficiam do trabalho diário nas suas equipas, como é o caso do Bayern de Munique.

Uma Holanda a muito bom nível, bem comandada por uma velha raposa, e dinamizada por um enorme jogador, em forma superior.

Uma França a que falta alguma criatividade, mas com muito bons jogadores, jovens, uma selecção que só pode crescer.

Boa presença de Colômbia, Argélia, Chile e Costa Rica.

Do lado da desilusão, um Brasil de uma pobreza confrangedora ao nível da organização e modelo de jogo, onde parece escassear talento no meio campo e no ataque, com excepção de Neymar (faltar talento, no Brasil, como é possível?!). As humilhantes derrotas contra a Alemanha e a Holanda foram tiradas a papel químico. Os jogadores queriam muito, mas não podiam. E não percebiam por que não podiam!... E quanto mais queriam mais abriam espaços nos flancos, no meio, em toda a parte… O futebol brasileiro necessita de ser virado do avesso, tanto ao nível da organização das competições internas, como da actualização dos seus treinadores.

E as maiores desilusões: Espanha, Portugal, Inglaterra e Itália. As maiores, Espanha e Portugal, em fim de ciclo. Pelo contrário, a Inglaterra poderá estar a iniciar um processo em que virá a voar alto, brevemente. Quanto à Itália, nem uma coisa nem outra, parece traduzir um processo mais geral de deperecimento do futebol italiano.

Não foi um Mundial espectacular, não houve grandes jogos, mas assistiu-se a uma maior qualidade média das equipas, quer ao nível da organização quer da capacidade competitiva.

As arbitragens? Uma miséria, com algumas excepções. A arbitragem do Brasil-Holanda foi a pior de que me lembro nos últimos tempos!...

Há muito tempo que não via tanta asneira junta, com influência nos resultados.

A FIFA, tal como a UEFA, sabem que a introdução dos meios tecnológicos limita muito o poder que têm sobre os árbitros e dificulta ‘arranjinhos’. Mas não vão ter outro remédio se não adoptá-las. É que os milhões que ganham podem estar em causa. As transmissões televisivas são um negócio brutal. Mas, o problema é que todo o mundo vê as bacoradas dos árbitros, mesmo quando há ordens ‘democráticas’ para não dar, ou limitar, as repetições de jogadas.

E pronto, acabou-se.

Quando é que começa o campeonato?!

sábado, 12 de julho de 2014

Eu cá sou pela Argentina! (O Vitó Pereira é pela Alemanha…)


Bastava o Vitó Pereira preferir a vitória da Alemanha, para eu saltar para outra trincheira. Estar do mesmo lado que essa personagem pateticamente convencida da sua doutoral sapiência técnico-táctica que andou a promover e ‘vender’ com os comentários na RTPorto Canal-2 (que ainda por cima lhe pagou, com os nossos impostos!...) e onde não deixou passar a oportunidade de lançar a provocação ao Benfica, falando do Kélvin? Nem mesmo em cadáver!…

Com o que acabo de dizer, está bom de ver, estou apenas a ‘alçar a perna’ e a projectar micção lateral sobre o tinhoso, porque as verdadeiras razões que me levam a apoiar a Argentina nada têm a ver com homúnculo tão irrelevante.

Apoio a Argentina porque admiro esse belo país, de vibrante música, grande literatura e enormes futebolistas, e um povo que tem resistido a tudo, de regimes ditatoriais a bancarrotas (ao que parece já está outra à porta…).

E quero que a Argentina ganhe à Alemanha!:

- Por Don Alfredo, la saeta rubia, grande entre os grandes, que nos deixou para ir ter (lá, onde quer que seja) com o seu idólatra e ídolo, Eusébio da Silva Ferreira, que ainda conserva escondida nos truços a sua camiseta, 'ganha' na final de 1962. Desta vez vão estar juntos, do mesmo lado, a vibrar com esta final, como poderia não estar ‘com eles’?!...

- Por Don Diego, lo diez, Diós, felizmente ainda vivo, e sonhadoramente ansioso por voltar a levantar, agora com o coração e a alma, o troféu máximo.

- Por Don Leonel ‘Messi(as)’, talento puro, de quem disse há tempos o nosso António Lobo Antunes, em entrevista ao El País “Há três ou quatro coisas importantes na vida; os livros, os amigos e as mulheres… e Messi. Vi-o há pouco, na televisão, no Mundialito. Ah se eu pudesse escrever como Messi joga futebol! A bola parece enamorada dele!”.

- Por Don Pablo César Aimar Giordano, El Mago de los magos, bailador com bola, prestidigitador de suprema inteligência, eterno sorriso nos lábios e brilho no olhar.

- Por Don Angelito (Di Magía), Don Garay (central bárbaro), Don Nico Gaitán, Don Enzo (que vive por dentro do sonho), Don Toto Sálvio…

- Pelo futebol, que com organização, força, mentalidade, articulação, técnica, é muito, mas sem arte, magia e ‘perfume’ fica irremediável e inexoravelmente pobre…

Pois então que a Argentina ganhe!

Se não se amedrontarem com a bliztkrieg alemã que arrasou o Brasil em meia dúzia de minutos.

Se não derem espaço para os panzers embalarem, se os bloquearem, confundirem e dinamitarem.

Se o Sabella usar a cabeça e (com Di María ou sem Di María) meter o Enzo no miolo, a articular defesa-ataque e a tamponar ataque-defesa.

Se souberem ganhar espaços e tempos, para libertar o génio Messi(as) da lâmpada.

Então, meus amigos,

A Messi lo vas a ver, la Copa nos va a traer”!
 
 

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Duas ou três coisas que eu sei ‘deles’…


Em tempos que já lá vão, o defeso era uma época boa, com um sabor especial. Levantar cedo, pela fresca, tomar um saboroso pequeno-almoço numa boa esplanada, e ler as novas dos jornais desportivos, eram pequenos mas deliciosos prazeres que não se podia dispensar.

Discutir o futebol, sem a espuma dos dias, acompanhar a formação dos plantéis, as características dos jogadores, os nomes curiosos e as alcunhas, as expectativas sobre a chegada de algum craque, uma ou outra transferência-bomba, constituíam outros tantos momentos de interesse, até excitantes (mesmo quando as coisas não eram favoráveis ao Glorioso), entretendo os dias que se iam escoando, em contagem decrescente, até a bola (re)começar a rolar…

As notícias sobre entradas e saídas eram dadas com parcimónia. E mesmo quando eram meramente especulativas (sempre as houve), acalentava-se a esperança de que se concretizassem, ou não, conforme o sentido, mesmo que plenamente conscientes de que se tratava apenas de um jogo de faz-de-conta. Fazia parte…

A penetração em força do dinheiro no futebol, em torno dos milhões dos mercados televisivos e, nos anos mais próximos, da ‘lavagem’ de rublos, euros ou dólares, muito (quase tudo?) veio alterar, contaminar, prostituir…

Os defesos perderam o encanto e transformaram-se em momentos irritantes, cansativos, dolorosos, com os media, dependentes, prostituídos, transformados em plataformas ao serviço de manobras de comunicação de interesses, mandando às malvas a ética profissional e o dever de informar.

A ética do dinheiro é apenas fazer mais e mais dinheiro. Sem princípios, o dinheiro é o princípio, os meios e os fins. O valor subjuga os valores. Apenas interessa fazer render a mercadoria ao melhor preço. Amor à camisola? Agora jura-se, daqui a nada renega-se, porque ‘amor’ mais valioso se alevanta. Clube? Selecção? Tudo é negociável.

Instituições (Federações, UEFAs, FIFAs) que passam a gerir milhões, contaminadas pelos interesses e a corrupção. Dirigentes apenas interessados em conservar poleiros e mordomias, e manter a roda a girar. Resultados viciados pelos mercados das apostas. Até o tráfico paralelo de bilhetes já é de alta organização, como o mostra o recente caso do CEO da Match Services que fornece os serviços de ticketing à FIFA...

‘Milionários investidores’, ‘Fundos’ sem controlo, ‘empresários’ e ‘representantes’ cada vez mais refinados, apoiados em grandes escritórios de advogados, negócios paralelos, marketings, a ‘imagem’ sem conteúdo, sponsorizações, um ror de comissionistas, pequenas e grandes prostitutas, numa cadeia alimentar que se enovela e complexifica, cravando-se cada vez mais fundo no corpo do futebol, parasitando-o e ameaçando cativar-lhe a alma…

E este belo jogo, simultaneamente tão simples e produtor de configurações tão complexas, que tanto nos entusiasma e arrebata, que traduz, reflecte, e projecta tanto do nosso ser social e das nossas identidades mais ancestrais, a tudo vem resistindo.

Até quando?...
 
 

quinta-feira, 3 de julho de 2014

A RTP, ‘la mierda’, a Olivedesportos e o sistema…


A RTPortoCanal-2 anda muito alvoroçada por o Enzo os ter mandado à mierda.

Mas é mesmo de mierda que se trata. Que há muita bosta por essas TV, em sinal aberto ou ‘fechado’, é por demais sabido e evidente. Mas o que é inadmissível é que essa bosta seja ‘pública’ e paga pelos nossos impostos!!

O que vou dizer não é novo, é do domínio público, já foi publicado muitas vezes em órgãos de informação e variadíssimos blogues, mas é sempre bom lembrar, pois, como diz o refrão, ‘recordar é viver’…

É uma história escandalosa que as ‘autoridades’ (in)competentes (ministério público, governos sucessivos…) nunca se preocuparam em investigar seriamente.

Como é sabido, a Olivedesportos teve (e continua a ter) um papel fundamental na implantação, desenvolvimento e incrustação do ‘sistema’. Primeiro, através dos direitos televisivos e dos ‘poderes’ daí resultantes e, mais tarde, pelo domínio, directo ou por influência, de órgãos de comunicação social.

Mas tudo começou pelos direitos televisivos.

“Joaquim Oliveira começou a vida a cozinhar, lavar pratos e a servir à mesa na Pensão Roseirinha [pertencente à mãe], em Penafiel. Foi a fazer amigos e a influenciar pessoas que se transformou num magnata do futebol e da Comunicação Social” (Jorge Fiel, in jornal Expresso, 25 de Março de 2005).

Depois de uma passagem por Angola, de onde regressou a seguir ao 25 de Abril, “Vagabundeou por vários comércios – geriu um bar de ‘streap-tease’ no Porto e uma charcutaria em Lisboa – até se instalar em definitivo na capital e deitar âncora nos negócios do futebol, fundando a Olivedesportos em 1984, a meias com o irmão” (Idem).

A Olivedesportos começou o negócio com a exploração da publicidade estática nos estádios, arrancando com a concessão dos estádios do Chaves e do Sporting.

O negócio foi-se desenvolvendo, com a obtenção de novas concessões, mas não era nenhuma mina de oiro. Em Saltillo, em 1986, Oliveira andava no campo, de martelo na mão a pregar a publicidade estática nos painéis.

A descoberta do petróleo só viria a acontecer em 1992, com a aquisição dos direitos dos resumos televisivos dos jogos do campeonato nacional. E foi aqui que começou a contar com a ajuda inestimável da RTP, empresa pública, que, durante uma década, viria a funcionar como verdadeira barriga de aluguer para o crescimento e engorda da Olivedesportos.

Jorge Schnitzer, em entrevista ao jornal Semanário, contou como tudo começou.

A SIC iniciou as suas emissões a 6 de Outubro de 1992, sendo a primeira estação privada a emitir em Portugal. Para ganhar audiências à RTP, a SIC entra nas transmissões televisivas de jogos de futebol, tendo adquirido os direitos dos jogos disputados entre Benfica, Sporting e Porto, por 400 mil contos, uma verba astronómica, para a altura.

Na época seguinte, Joaquim Oliveira (que anteriormente já tinha adquirido, e revendido à RTP, os direitos dos resumos de três minutos) aproveita o clima de perturbação criado pela SIC e ataca forte.

No concurso aberto pela Liga, para a concessão dos direitos de transmissão dos principais jogos e resumos do campeonato, a SIC apresenta uma proposta de 50 mil contos. A RTP apresenta uma proposta de 1 milhão e 800 mil contos, e a Olivedesportos uma proposta de 1 milhão e 980 mil contos, vencendo o concurso.

O jornal O Independente noticiou, na altura, que Adrano Cerqueira, então responsável pela Direcção de Programas da RTP, teria tido uma reunião com a Olivedesportos antes de a RTP entregar a sua proposta.

Por outro lado, segundo Schnitzer, a Polícia Judiciária fez buscas em casa de Joaquim Oliveira, tendo descoberto que ele tinha tido acesso à proposta da SIC antes de apresentar a proposta da Olivedesportos.

Posto isto, a RTP viria a recomprar os direitos de transmissão à Olivedesportos, incluindo também a publicidade estática, por 3 milhões de contos!...

Ou seja, numa altura em que ainda não existia Sport TV e que, portanto, a Olivedesportos não tinha capacidade de fazer emissões e podia, desse modo, arriscar-se a ficar com os direitos na mão e perder quase 2 milhões de contos, a RTP, num acto de gestão estranhíssimo, decide pagar uma fortuna à Olivedesportos, lesando gravemente o património público e deixando no ar a suspeição (nunca investigada) de conivência com a Olivedesportos, em troco não se sabe de quê e para quem…

Posteriormente, a RTP viria a renovar o contrato com a Olivedesportos pagando, desta vez, cerca de 4 milhões de contos, num momento em que a SIC nem sequer apresentou qualquer proposta.

Esta brutal acumulação inicial de capital, proporcionada pela RTP, à custa do erário público e dos nossos impostos, permitiu à Olivedesportos ganhar músculo, e estender e consolidar a sua rede de influência e de dependência financeira sobre os clubes.

E, em Abril de 1998, permite-lhe avançar, através da PPTV, para a criação da Sport TV, em parceria com a TV Cabo (da PT) e, imagine-se, com a empresa pública RTP, que entrou com 33,3% do capital!

A participação da RTP na Sport TV viria a revelar-se um verdadeiro buraco e sorvedouro de recursos públicos, em benefício exclusivo da Sport TV/Olivedesportos. Quem o diz é o insuspeito e institucional Tribunal de Contas, no Relatório 08/02, relativo a auditoria feita à RTP, e aprovado a 6 de Junho de 2002.

Neste relatório (quem ainda não o tiver, pode fazer download no site do TC, em http://www.tcontas.pt/pt/actos/rel_auditoria/2002/audit2002.shtm), podemos encontrar, entre muitas outras, as seguintes ‘pérolas’ (os sublinhados são meus), nas páginas 14, 15, 86 e 87:
"A RTP funciona, como garantia para o escoamento dos direitos que a OLIVEDESPORTOS, praticamente, monopoliza, no domínio da transmissão dos jogosd e futebol nacional.

E o facto é que, para a RTP, as transmissões de futebol têm acarretado acumulação de prejuízos, pelos elevados encargos que as aquisições de direitos representam.

Relativamente à participação da RTP no canal SPORT TV, da análise do que têm sido as suas contrapartidas, confrontadas com o investimento financeiro realizado, constata-se que a RTP se apresenta como um “contribuinte líquido” do canal de conteúdos desportivos. As receitas para a RTP, como contrapartida dos serviços prestados à SPORT TV, têm sido insuficientes e com margens próximas do zero.

Com feito, o Acordo Parassocial celebrado entre a TV CABO, a RTP e a PPTV, para regular as relações entre cada uma das empresas fundadoras e a empresa comum, SPORT TV, afigura-se desvantajoso para a RTP, na medida em que esta empresa, ao contrário do que acontece com os restantes dois sócios da SPORT TV, não assegura para si a produção dos conteúdos televisivos do canal de desporto, a partir da capacidade de que dispõe, não cobrando também qualquer margem de intermediação pelos direitos de transmissão de eventos que cede à SPORT TV.

Quanto à cedência de direitos à SPORT TV, apurou-se que a RTP, no período de 1998 a 2000, procedeu à cedência de diversos direitos a este canal sem qualquer tipo de contrapartida, atingindo os mesmos, no seu conjunto, valor significativo.

Relativamente à aquisição de jogos disputados por equipas nacionais no estrangeiro, é de difícil aceitação que a RTP os vá adquirir à OLIVEDESPORTOS, como acontece, quando os respectivos direitos não são pertença das equipas nacionais envolvidas, mas das visitadas, que os comercializam, geralmente, através de outros intermediários.

Este tipo de aquisições, de jogos disputados no estrangeiro, ficou inclusivamente contemplado no contrato que a RTP celebrou com a OLIVEDESPORTOS em Julho de 1995, relativo às épocas de 1995/96 a 1997/98, quando os respectivos direitos ainda nem sequer pertenciam à OLIVEDESPORTOS, por se desconhecer os clubes estrangeiros que estariam envolvidos".

Na sequência da análise efectuada, o TC viria a recomendar ao CA da RTP que analisasse a viabilidade futura da política de transmissões televisivas, bem como da sua participação noutras empresas.

Em 2003, a RTP decidiria, finalmente, sair do capital da Sport TV, quando já não era precisa para nada e só estorvava, e depois de mais de dez anos a ‘amamentar’ a Olivedesportos/Sport TV, e de milhões de euros dos contribuintes serem exauridos no processo, contribuindo para as dezenas e dezenas de milhões de prejuízos sucessivos e acumulados. Mas ninguém pagou por isso, a não ser todos nós!

Neste processo, para além da natural ‘portização’ da Sport TV (para a qual transitaram vários quadros da RTP, ou que por lá passaram, como o Bessa Tavares) assiste-se, paralelamente, à ‘portização’ da informação desportiva da RTP, reforçada com a deslocação da redacção de desporto para a RTP Porto, a qual passa a ser completamente dominada por portistas, com alguns lagartos amestrados para compor o ramalhete.

A RTP saiu da Sport TV, mas ficaram lá ‘as sementes do diabo’, as ‘influências’ e as relações privilegiadas com Olivedesportos e a Sport TV, como o mostra o recente acordo para cedência de direitos de transmissão do Mundial, a esta última, mas não às duas outras cadeias de televisão.

Só uma profunda desinfestação, e a saída do Porto da redacção de desporto poderão resolver esta pútrida contaminação.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Valha-nos o Mundial!...


1. Surpreendente, pela positiva, este campeonato do mundo. Grande equilíbrio, equipas de um modo geral bem organizadas, competitivas.

Já não há ‘sacos de batatas’, talvez com excepção da Austrália. Nota-se uma grande evolução na consistência das equipas, mesmo as africanas, embora ainda subsista alguma anarquia, tanto a atacar como, sobretudo, a defender.

Quem diria que um Bélgica-EUA iria ser um dos jogos mais espectaculares do mundial? A Bélgica ainda não é uma grande equipa, mas enormes jogadores não lhe faltam. Quando aquela malta jogar bem organizada vão arrasar. Hazard? Eu prefiro o Kevin de Bruyne. O puto é um jogador fenomenal. Lukaku, Origi, crise de avançados não é com eles, embora o Mertens me pareça um bocadinho burro e individualista.

Grande partida dos ianques, com enorme querer, força e entrega. Se tivessem jogado assim com a equipazinha portuguesa tinham goleado…

Queria aqui dizer que já vi muito jogo de futebol, mas não me recordo de uma exibição que se aproxime à do Tim Howard na baliza dos States. Absolutamente brutal!

Não percebo o futebol da Argentina… É uma tristeza ver aquele meio campo tão coxo, sem capacidade de condução, a bombar bolas para a frente, ou então tem que ser o Garay a levar a bola e a meter na linha, e o Enzo no banco!…

Vem agora a parte mais decisiva do campeonato, com perspectiva de grandes jogos nos quartos-de-final, como o Brasil-Colômbia e o França-Alemanha. Também estou curioso em ver como vai decorrer o Argentina-Bélgica, sobretudo como é que as defesas vão conseguir parar os ataques, especialmente a Bélgica que parece só saber (ou querer) jogar para a frente…

2. O melhor de tudo é, sempre, o futebol. O pior é o que anda à volta e na babugem do futebol...

O Suárez prometeu que não torna a morder…

O Presidente do Uruguai diz que “Los de la FIFA son una manga de viejos hijos de puta”. E diz mais “Podiam tê-lo castigado, mas não com sanções fascistas”. Arrefifa-lhes Mujica!

De facto, 9 jogos de suspensão, tudo bem, até podiam ser mais. Mas… impedir o jogador de estar e treinar com a equipa?! Porquê, para proteger os colegas, o treinador, o roupeiro, o seccionista, o… não vá o Suárez morder-lhes?! Isto é tratar o jogador como um animal. Bem diz Diós Maradona, ‘Mandem-no já para Guantánamo’!

[Olhem, que tal proibir o Bruno Alves de treinar, não vá desatar à patada a tudo o que mexe?]

E o imbecil do secretário da FIFA veio dizer publicamente que o Suárez devia procurar tratamento, por causa das mordidelas!

Esta malta julga-se quem?! Têm que se limitar a anunciar o castigo e não a tecer comentários sobre a sanidade mental do jogador. E se o Suárez mandasse os gajos da FIFA tratar-se por causa da corrupção, da manipulação de árbitros, das negociatas, dos campeonatos do mundo com jogos à 1 hora da tarde (!) por causa dos dólares, etc., etc.?!

O Robben veio dizer que aquela coisa, no final do jogo, foi mesmo penalti, e que na primeira parte é que se tinha atirado para a piscina. É claro que aquilo que o moço quis dizer foi que no final do jogo se atirou para a piscina, mas como na primeira parte sofreu mesmo penalti, a coisa fica ela por ela...

Sobre o assunto diz a inefável A Bola que ‘a honestidade de Robben’ (!) não vai ter castigo… Virgem Maria, é do calor!…

E o grande Pinilla (quem, se não ele, poderia secar as esperanças do Chile, nos últimos segundos do jogo e nos penaltis?...) vem acusar o director de comunicação da CBF, de o ter agredido no túnel (os túneis deviam ser elevados a instituição do futebol) e ser “um delinquente de fato”. De fato, e de facto, digo eu (raios partam o acordo ortográfico!). Mas o delinquente só foi suspenso por um joguito. Adoro a FIFA!

PS: Por cá, segue a rusga! A equipa principal do Benfica, metade da equipa B e metade da equipa de juniores já foi tudo vendido várias vezes!... Nem ligo, já dei para esse peditório…

Entretanto, o Benfica já ‘desvendou’ o equipamento alternativo, e as cores são cinzento-escuro e ‘fúcsia’… ‘Fúcsia’?! Fuck-se! Aquilo são mas é tons de cor-de-rosa. E andava a malta a gozar com os tipos do Porto…