A
RTPortoCanal-2 anda muito alvoroçada por o Enzo os ter mandado à mierda.
Mas
é mesmo de mierda que se trata. Que há
muita bosta por essas TV, em sinal aberto ou ‘fechado’, é por demais sabido e evidente.
Mas o que é inadmissível é que essa bosta seja ‘pública’ e paga pelos nossos impostos!!
O
que vou dizer não é novo, é do domínio público, já foi publicado muitas vezes em órgãos de
informação e variadíssimos blogues, mas é sempre bom lembrar, pois, como diz o
refrão, ‘recordar é viver’…
É
uma história escandalosa que as ‘autoridades’ (in)competentes (ministério público,
governos sucessivos…) nunca se preocuparam em investigar seriamente.
Como
é sabido, a Olivedesportos teve (e continua a ter) um papel fundamental na
implantação, desenvolvimento e incrustação do ‘sistema’. Primeiro, através dos
direitos televisivos e dos ‘poderes’ daí resultantes e, mais tarde, pelo
domínio, directo ou por influência, de órgãos de comunicação social.
Mas
tudo começou pelos direitos televisivos.
“Joaquim
Oliveira começou a vida a cozinhar, lavar pratos e a servir à mesa na Pensão
Roseirinha [pertencente à mãe], em Penafiel. Foi a fazer amigos e a influenciar
pessoas que se transformou num magnata do futebol e da Comunicação Social”
(Jorge Fiel, in jornal Expresso, 25 de Março de 2005).
Depois
de uma passagem por Angola, de onde regressou a seguir ao 25 de Abril, “Vagabundeou
por vários comércios – geriu um bar de ‘streap-tease’
no Porto e uma charcutaria em Lisboa – até se instalar em definitivo na capital
e deitar âncora nos negócios do futebol, fundando a Olivedesportos em 1984, a
meias com o irmão” (Idem).
A
Olivedesportos começou o negócio com a exploração da publicidade estática nos
estádios, arrancando com a concessão dos estádios do Chaves e do Sporting.
O
negócio foi-se desenvolvendo, com a obtenção de novas concessões, mas não era
nenhuma mina de oiro. Em Saltillo, em 1986, Oliveira andava no campo, de
martelo na mão a pregar a publicidade estática nos painéis.
A
descoberta do petróleo só viria a acontecer em 1992, com a aquisição dos
direitos dos resumos televisivos dos jogos do campeonato nacional. E foi aqui
que começou a contar com a ajuda inestimável da RTP, empresa pública, que,
durante uma década, viria a funcionar como verdadeira barriga de aluguer para o
crescimento e engorda da Olivedesportos.
Jorge
Schnitzer, em entrevista ao jornal Semanário,
contou como tudo começou.
A
SIC iniciou as suas emissões a 6 de Outubro de 1992, sendo a primeira estação privada
a emitir em Portugal. Para ganhar audiências à RTP, a SIC entra nas transmissões
televisivas de jogos de futebol, tendo adquirido os direitos dos jogos disputados
entre Benfica, Sporting e Porto, por 400 mil contos, uma verba astronómica,
para a altura.
Na
época seguinte, Joaquim Oliveira (que anteriormente já tinha adquirido, e
revendido à RTP, os direitos dos resumos de três minutos) aproveita o clima de
perturbação criado pela SIC e ataca forte.
No
concurso aberto pela Liga, para a concessão dos direitos de transmissão dos principais
jogos e resumos do campeonato, a SIC apresenta uma proposta de 50 mil contos. A
RTP apresenta uma proposta de 1 milhão e 800 mil contos, e a Olivedesportos uma
proposta de 1 milhão e 980 mil contos, vencendo o concurso.
O
jornal O Independente noticiou, na
altura, que Adrano Cerqueira, então responsável pela Direcção de Programas da
RTP, teria tido uma reunião com a Olivedesportos antes de a RTP entregar a sua
proposta.
Por
outro lado, segundo Schnitzer, a Polícia Judiciária fez buscas em casa de
Joaquim Oliveira, tendo descoberto que ele tinha tido acesso à proposta da SIC antes
de apresentar a proposta da Olivedesportos.
Posto
isto, a RTP viria a recomprar os direitos de transmissão à Olivedesportos,
incluindo também a publicidade estática, por 3 milhões de contos!...
Ou
seja, numa altura em que ainda não existia Sport TV e que, portanto, a
Olivedesportos não tinha capacidade de fazer emissões e podia, desse modo,
arriscar-se a ficar com os direitos na mão e perder quase 2 milhões de contos,
a RTP, num acto de gestão estranhíssimo, decide pagar uma fortuna à
Olivedesportos, lesando gravemente o património público e deixando no ar a
suspeição (nunca investigada) de conivência com a Olivedesportos, em troco não
se sabe de quê e para quem…
Posteriormente,
a RTP viria a renovar o contrato com a Olivedesportos pagando, desta vez, cerca
de 4 milhões de contos, num momento em que a SIC nem sequer apresentou qualquer
proposta.
Esta
brutal acumulação inicial de capital, proporcionada pela RTP, à custa do erário
público e dos nossos impostos, permitiu à Olivedesportos ganhar músculo, e estender
e consolidar a sua rede de influência e de dependência financeira sobre os
clubes.
E,
em Abril de 1998, permite-lhe avançar, através da PPTV, para a criação da Sport
TV, em parceria com a TV Cabo (da PT) e, imagine-se, com a empresa pública RTP,
que entrou com 33,3% do capital!
A
participação da RTP na Sport TV viria a revelar-se um verdadeiro buraco e
sorvedouro de recursos públicos, em benefício exclusivo da Sport TV/Olivedesportos.
Quem o diz é o insuspeito e institucional Tribunal de Contas, no Relatório 08/02,
relativo a auditoria feita à RTP, e aprovado a 6 de Junho de 2002.
Neste
relatório (quem ainda não o tiver, pode fazer download no site do TC, em http://www.tcontas.pt/pt/actos/rel_auditoria/2002/audit2002.shtm),
podemos encontrar, entre muitas outras, as seguintes ‘pérolas’ (os sublinhados
são meus), nas páginas 14, 15, 86 e 87:
"A RTP funciona, como garantia para o escoamento dos direitos que a OLIVEDESPORTOS, praticamente, monopoliza, no domínio da transmissão dos jogosd e futebol nacional.
E o facto é que, para a RTP, as transmissões de
futebol têm acarretado acumulação de prejuízos, pelos elevados encargos que as
aquisições de direitos representam.
Relativamente à participação da RTP no canal SPORT TV, da
análise do que têm sido as suas contrapartidas, confrontadas com o investimento
financeiro realizado, constata-se que a RTP se apresenta como um
“contribuinte líquido” do canal de conteúdos desportivos. As receitas para
a RTP, como contrapartida dos serviços prestados à SPORT TV, têm sido
insuficientes e com margens próximas do zero.
Com feito, o Acordo Parassocial celebrado entre a TV
CABO, a RTP e a PPTV, para regular as relações entre cada uma das empresas
fundadoras e a empresa comum, SPORT TV, afigura-se desvantajoso para a RTP,
na medida em que esta empresa, ao contrário do que acontece com os restantes
dois sócios da SPORT TV, não assegura para si a produção dos conteúdos
televisivos do canal de desporto, a partir da capacidade de que dispõe, não
cobrando também qualquer margem de intermediação pelos direitos de transmissão
de eventos que cede à SPORT TV.
Quanto à cedência de direitos à SPORT TV, apurou-se
que a RTP, no período de 1998 a 2000, procedeu à cedência de diversos direitos
a este canal sem qualquer tipo de contrapartida, atingindo os mesmos, no seu conjunto,
valor significativo.
Relativamente à aquisição de jogos disputados por equipas
nacionais no estrangeiro, é de difícil aceitação que a RTP os vá adquirir à
OLIVEDESPORTOS, como acontece, quando os respectivos direitos não são
pertença das equipas nacionais envolvidas, mas das visitadas, que os
comercializam, geralmente, através de outros intermediários.
Este tipo de aquisições, de jogos disputados no
estrangeiro, ficou inclusivamente contemplado no contrato que a RTP celebrou
com a OLIVEDESPORTOS em Julho de 1995, relativo às épocas de 1995/96 a 1997/98,
quando os respectivos direitos ainda nem sequer pertenciam à OLIVEDESPORTOS,
por se desconhecer os clubes estrangeiros que estariam envolvidos".
Na
sequência da análise efectuada, o TC viria a recomendar ao CA da RTP que analisasse
a viabilidade futura da política de transmissões televisivas, bem como da sua
participação noutras empresas.
Em
2003, a RTP decidiria, finalmente, sair do capital da Sport TV, quando já não
era precisa para nada e só estorvava, e depois de mais de dez anos a ‘amamentar’
a Olivedesportos/Sport TV, e de milhões de euros dos contribuintes serem
exauridos no processo, contribuindo para as dezenas e dezenas de milhões de
prejuízos sucessivos e acumulados. Mas ninguém pagou por isso, a não ser todos
nós!
Neste
processo, para além da natural ‘portização’ da Sport TV (para a qual transitaram
vários quadros da RTP, ou que por lá passaram, como o Bessa Tavares) assiste-se,
paralelamente, à ‘portização’ da informação desportiva da RTP, reforçada com a
deslocação da redacção de desporto para a RTP Porto, a qual passa a ser completamente
dominada por portistas, com alguns lagartos amestrados para compor o ramalhete.
A
RTP saiu da Sport TV, mas ficaram lá ‘as sementes do diabo’, as ‘influências’ e
as relações privilegiadas com Olivedesportos e a Sport TV, como o mostra o recente
acordo para cedência de direitos de transmissão do Mundial, a esta última, mas
não às duas outras cadeias de televisão.
Só
uma profunda desinfestação, e a saída do Porto da redacção de desporto poderão
resolver esta pútrida contaminação.
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