O primeiro jogo que vi,
do Benfica, foi a final da Taça dos Campeões Europeus da época de 1964/1965,
era eu um garotito.
Na minha terra, na
província, eram ainda poucas as pessoas com televisão em casa (na minha, só
entraria no ano seguinte, a tempo do Mundial de Inglaterra). O pessoal ia ver
televisão aos cafés, clubes e, por vezes, até nas montras das lojas.
Vi a final num dos
clubes da terra. Mas, de tudo o que se passou restam apenas duas cenas na minha
memória. A primeira é a sala, repleta, o ambiente pesado de tensão e fumo de
tabaco, a obscuridade. Na altura via-se televisão como quem via cinema. Num espaço
próprio (a “sala da televisão”), o aparelho de TV na parede, filas de cadeiras,
sala levemente iluminada com pequenas luzes de presença.
A segunda cena é o golo
do Inter, com a sacana da bola a ganhar vida própria e a escapulir-se, lenta, provocatória,
execrável, inexorável e fatalmente, por entre as pernas do Costa, até
ultrapassar a linha de baliza.
Depois disso, vi todas
as outras finais europeias pela televisão, quase sempre com acontecimentos
estranhos ou enguiços a desgraçar cada uma delas, desde o golo falhado por
Eusébio, isolado (impossível…), à beira dos 90’, em 1968 com o Manchester, até
à cabeçada de Inanovic, aos 90+2’ no ano passado com o Chelsea.
Ah e tal, a maldição do
Béla Guttmann, e mais não sei quê. Peço desculpa, mas justificações desse tipo
relevam do pensamento mágico e eu sou um tipo racional, vá lá ver!
Vamos a factos
concretos. Considerando que a primeira final perdida, em 1963, foi um
acontecimento normal, porque não se pode ganhar sempre, há três factos
evidentes e objectivos comuns a todas as outras finais: 1) foram perdidas; 2)
houve ali coisas estranhas; 3) eu vi os jogos pela televisão.
Perante isto, o meu
espírito racional diz-me que não pode deixar de haver nexos de causalidade
entre estas três realidades.
Tive um velho professor
de filosofia que costumava dizer que ‘o génio do sábio se exprime na formulação
da hipótese’.
Ora bem, então, a minha
hipótese é a seguinte.
Sou um tipo com
tendência para acumular electricidade estática (às vezes quando meto a chave na
fechadura até salta faísca). Esta energia cria um enorme campo que entra em impedância
com as ondas electromagnéticas das emissões televisivas, originando poderosas
reverberações psico-cósmicas e evidentes distorções no espaço-tempo, com
efeitos perversos (em termos de antimatéria) no centro do Universo, isto é, no
Sport Lisboa e Benfica.
Nas minhas cogitações,
apenas encontro duas soluções científicas para este problema.
Uma é ‘regressar ao
futuro’ e intervir nas finais, contrabalançando as distorções criadas.
Ora, para além dos
evidentes riscos para o equilíbrio cósmico (até porque me cheira que as finais
futuras serão frequentes), confesso que não tenho dinheiro para comprar e
equipar um DeLorean e, mesmo que
tivesse, já não conseguiria introduzir as modificações necessárias a tempo da
final de Turim, mesmo com a ajuda do ‘Doc’ Emmett…
Resta, portanto, a
segunda solução, aliás, bastante mais simples: eu ver o jogo ao vivo e não pela
televisão!
Esta ideia já me tinha
trespassado o cérebro no ano passado, aquando da final com o Chelsea. Estive
para ir a Amsterdão mas, coisa daqui, coisa dali, a viagem acabou por não
acontecer, e lá tive que ver pela televisão.
Ainda tentei encontrar
um boné com ventoinha, tipo Professor Pardal, numa tentativa desesperada de
evitar ou, pelo menos, mitigar, as impedâncias, mas não consegui, e foi o que
se viu…
Lanço, portanto, daqui,
um apelo pungente aos nossos bravos. Rapazes: ‘honrai os azes que nos honraram no
passado’ e eliminem-me essa Juventus! É fundamental, para todos nós e para o
reequilíbrio do cosmos, que eu possa ir a Turim ver a final com os meus
próprios olhos!
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