terça-feira, 29 de abril de 2014

Força rapazes! É fundamental, para o reequilíbrio do cosmos, que eu vá a Turim ver a final com os meus próprios olhos!


O primeiro jogo que vi, do Benfica, foi a final da Taça dos Campeões Europeus da época de 1964/1965, era eu um garotito.

Na minha terra, na província, eram ainda poucas as pessoas com televisão em casa (na minha, só entraria no ano seguinte, a tempo do Mundial de Inglaterra). O pessoal ia ver televisão aos cafés, clubes e, por vezes, até nas montras das lojas.

Vi a final num dos clubes da terra. Mas, de tudo o que se passou restam apenas duas cenas na minha memória. A primeira é a sala, repleta, o ambiente pesado de tensão e fumo de tabaco, a obscuridade. Na altura via-se televisão como quem via cinema. Num espaço próprio (a “sala da televisão”), o aparelho de TV na parede, filas de cadeiras, sala levemente iluminada com pequenas luzes de presença.

A segunda cena é o golo do Inter, com a sacana da bola a ganhar vida própria e a escapulir-se, lenta, provocatória, execrável, inexorável e fatalmente, por entre as pernas do Costa, até ultrapassar a linha de baliza.

Depois disso, vi todas as outras finais europeias pela televisão, quase sempre com acontecimentos estranhos ou enguiços a desgraçar cada uma delas, desde o golo falhado por Eusébio, isolado (impossível…), à beira dos 90’, em 1968 com o Manchester, até à cabeçada de Inanovic, aos 90+2’ no ano passado com o Chelsea.

Ah e tal, a maldição do Béla Guttmann, e mais não sei quê. Peço desculpa, mas justificações desse tipo relevam do pensamento mágico e eu sou um tipo racional, vá lá ver!

Vamos a factos concretos. Considerando que a primeira final perdida, em 1963, foi um acontecimento normal, porque não se pode ganhar sempre, há três factos evidentes e objectivos comuns a todas as outras finais: 1) foram perdidas; 2) houve ali coisas estranhas; 3) eu vi os jogos pela televisão.

Perante isto, o meu espírito racional diz-me que não pode deixar de haver nexos de causalidade entre estas três realidades.

Tive um velho professor de filosofia que costumava dizer que ‘o génio do sábio se exprime na formulação da hipótese’.

Ora bem, então, a minha hipótese é a seguinte.

Sou um tipo com tendência para acumular electricidade estática (às vezes quando meto a chave na fechadura até salta faísca). Esta energia cria um enorme campo que entra em impedância com as ondas electromagnéticas das emissões televisivas, originando poderosas reverberações psico-cósmicas e evidentes distorções no espaço-tempo, com efeitos perversos (em termos de antimatéria) no centro do Universo, isto é, no Sport Lisboa e Benfica.

Nas minhas cogitações, apenas encontro duas soluções científicas para este problema.

Uma é ‘regressar ao futuro’ e intervir nas finais, contrabalançando as distorções criadas.

Ora, para além dos evidentes riscos para o equilíbrio cósmico (até porque me cheira que as finais futuras serão frequentes), confesso que não tenho dinheiro para comprar e equipar um DeLorean e, mesmo que tivesse, já não conseguiria introduzir as modificações necessárias a tempo da final de Turim, mesmo com a ajuda do ‘Doc’ Emmett…

Resta, portanto, a segunda solução, aliás, bastante mais simples: eu ver o jogo ao vivo e não pela televisão!

Esta ideia já me tinha trespassado o cérebro no ano passado, aquando da final com o Chelsea. Estive para ir a Amsterdão mas, coisa daqui, coisa dali, a viagem acabou por não acontecer, e lá tive que ver pela televisão.

Ainda tentei encontrar um boné com ventoinha, tipo Professor Pardal, numa tentativa desesperada de evitar ou, pelo menos, mitigar, as impedâncias, mas não consegui, e foi o que se viu…

Lanço, portanto, daqui, um apelo pungente aos nossos bravos. Rapazes: ‘honrai os azes que nos honraram no passado’ e eliminem-me essa Juventus! É fundamental, para todos nós e para o reequilíbrio do cosmos, que eu possa ir a Turim ver a final com os meus próprios olhos!

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