sexta-feira, 20 de junho de 2014

Nem com Mundial se calam…


Ainda acalentei esperanças (sem grande convicção, confesso) de que o Mundial e as múltiplas tendas de circo montadas à sua volta fornecessem ‘entretenimento’ suficiente para atrair e concentrar a atenção dos actores, fazedores de notícias e comentadores da nossa praça, deixando o Glorioso em paz, permitindo-nos suportar o ‘defeso’ sem maiores incómodos, que já bem basta o sofrimento de não vermos os nossos, de águia ao peito.

Também tinha esperança que Jorge Jesus, depois de ter dado várias entrevistas, de fundo e ‘meio-fundo’, finalmente se calasse e se dedicasse a preparar serenamente a próxima época.

Vãs esperanças…

Jesus, de novo transportado no ‘carro’ do Sol (do célebre Álvaro Sobrinho, que detém 24% da SAD do Sporting, e deixou ‘volatilizar’ mais de 5 mil milhões de dólares no BES Angola), lá debitou novamente ‘estórias’, em Angola. É claro que o jornal Sol, mais uma vez, vai fazer render o peixe duas semanas seguidas, uma, a anunciar, outra, a publicar a reportagem… A Bola aproveitou e já deu uns cheirinhos na edição de hoje. E o bom do Jesus lá falou de novo dos ‘éne’ convites para ganhar cinco ou seis vezes mais do que no Benfica, mas que não era o momento de sair, embora também não se veja como o Ferguson do Benfica, porque “Em Portugal isso é difícil, já estava a ser confuso para muita gente”. Nesta explicação, Jesus comparou Portugal com Inglaterra, mas não se lembrou de se comparar a si mesmo com Ferguson, e de encontrar aí algumas diferenças que, quiçá, também pudessem contribuir para a dita explicação…

Adiante.

Mas as minhas esperanças, vãs, assentavam, principalmente, no desejo de que o circo do Mundial e o futebol propriamente dito (que ainda resiste…), fossem suficientes para a gentalha dos jornais encher as capas e as folhitas.

Qual quê! A campanha em torno do Benfica estava há muito programada, com ou sem Mundial. A hecatombe da selecção portuguesa, e o ‘desaparecimento’ súbito e corajoso do ‘Capitão’ Marvel-Ronaldo (que levou o Patrício consigo - preservá-los, de quê e para quê/quem?) fez amainar o circo e ajudou a abrir espaço, e tem sido um ver se avias!

E, aqui, o jornal A Bola tem desempenhado um papel perfeitamente asqueroso! A forma, como, quase diariamente, de forma insistente e sistemática, se dedica a colocar fora do Clube os seus principais jogadores, ora para aqui, ora para acolá, está a ultrapassar todos os limites.

É evidente que esta campanha é alimentada e dirigida de fora, e não é por acaso: é direccionada sobretudo para A Bola, porque ainda continua a ser um jornal considerado como sendo da preferência dos benfiquistas.

Mas A Bola, hoje, não é mais do que uma pobre folha de couve. É com mágoa que o digo. Ainda sou do tempo da velha A Bola – Jornal de Todos os Desportos, compêndio de futebol, com Jornalistas (escrevo, propositadamente, com maiúscula) notáveis como Carlos Pinhão, Vítor Santos, Aurélio Márcio, Alfredo Farinha.

Num tempo, é certo, em que as transmissões televisivas ainda eram raras, era um gosto ler as crónicas dos jogos, autênticas narrativas, tantas vezes pictóricas, e não meras baboseiras ou bolsadas de lugares comuns, como hoje acontece.

Os artigos de opinião eram aprofundados e fundamentados, com excepções, evidentemente, e as notícias eram elaboradas com profissionalismo, com ética jornalística.

[Nunca me passou pela cabeça que o Alfredo Farinha fosse benfiquista, tal a sua isenção. Só depois de ‘reformado’ é que revelou as suas preferências clubistas e, como benfiquista, chegou a malhar forte e feio no Manuel Serrão, em programas de desporto na televisão. Isto mostra bem a cepa de que esta gente era feita].

Uma instituição, a velha A Bola. E como esta gente sabia escrever em excelente português! Também com excepções, claro. Lembro-me perfeitamente de algumas crónicas do ‘pequeno’ Rui Santos (o moço nunca foi ‘grande’, de facto), que, ainda jovem, entrara em A Bola pela mão do tio, o ‘grande’ Vítor Santos, e acompanhava os jogos dos juniores. As crónicas do ‘pequeno’ exibiam um português de uma pobreza confrangedora (a ortografia era, certamente, depurada pelos revisores, mas o resto era o diabo). Quando há uns anos atrás ouvi o ‘pequeno’ a mandar bitaites, sapientemente, sobre o mau português de Vieira e de Jesus, fartei-me de rir.

É claro que os tempos mudaram. A concorrência, a crise da imprensa escrita e o enorme desenvolvimento da internet, as transmissões televisivas, a penetração do ‘dinheiro’ no futebol, a hipertrofia da influência dos poderes económicos na comunicação, vieram colocar os media sob grande pressão e acabaram com a independência e a ética.

Mas nem isto explica a indigência, o facilitismo e a irrelevância. Em A Bola de hoje, por exemplo, dois jornalistas que ainda considero respeitáveis, José Manuel Freitas e José Manuel Delgado, enchem dois chouriços, a partir do Brasil, um a falar de vinhos e ou outro de cachaças…

Ou, se calhar, até têm razão…

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