Ainda acalentei esperanças (sem grande
convicção, confesso) de que o Mundial e as múltiplas tendas de circo montadas à
sua volta fornecessem ‘entretenimento’ suficiente para atrair e concentrar a
atenção dos actores, fazedores de notícias e comentadores da nossa praça,
deixando o Glorioso em paz, permitindo-nos suportar o ‘defeso’ sem maiores
incómodos, que já bem basta o sofrimento de não vermos os nossos, de águia ao
peito.
Também tinha esperança que Jorge Jesus,
depois de ter dado várias entrevistas, de fundo e ‘meio-fundo’, finalmente se
calasse e se dedicasse a preparar serenamente a próxima época.
Vãs esperanças…
Jesus, de novo transportado no ‘carro’ do Sol (do célebre Álvaro Sobrinho, que
detém 24% da SAD do Sporting, e deixou ‘volatilizar’ mais de 5 mil milhões de
dólares no BES Angola), lá debitou novamente ‘estórias’, em Angola. É claro que
o jornal Sol, mais uma vez, vai fazer
render o peixe duas semanas seguidas, uma, a anunciar, outra, a publicar a
reportagem… A Bola aproveitou e já
deu uns cheirinhos na edição de hoje. E o bom do Jesus lá falou de novo dos ‘éne’
convites para ganhar cinco ou seis vezes mais do que no Benfica, mas que não
era o momento de sair, embora também não se veja como o Ferguson do Benfica,
porque “Em Portugal isso é difícil, já estava a ser confuso para muita gente”.
Nesta explicação, Jesus comparou Portugal com Inglaterra, mas não se lembrou de
se comparar a si mesmo com Ferguson, e de encontrar aí algumas diferenças que,
quiçá, também pudessem contribuir para a dita explicação…
Adiante.
Mas as minhas esperanças, vãs, assentavam,
principalmente, no desejo de que o circo do Mundial e o futebol propriamente
dito (que ainda resiste…), fossem suficientes para a gentalha dos jornais
encher as capas e as folhitas.
Qual quê! A campanha em torno do Benfica
estava há muito programada, com ou sem Mundial. A hecatombe da selecção
portuguesa, e o ‘desaparecimento’ súbito e corajoso do ‘Capitão’ Marvel-Ronaldo
(que levou o Patrício consigo - preservá-los, de quê e para quê/quem?) fez
amainar o circo e ajudou a abrir espaço, e tem sido um ver se avias!
E, aqui, o jornal A Bola tem desempenhado um papel perfeitamente asqueroso! A forma,
como, quase diariamente, de forma insistente e sistemática, se dedica a colocar
fora do Clube os seus principais jogadores, ora para aqui, ora para acolá, está
a ultrapassar todos os limites.
É evidente que esta campanha é alimentada e
dirigida de fora, e não é por acaso: é direccionada sobretudo para A Bola, porque ainda continua a ser um
jornal considerado como sendo da preferência dos benfiquistas.
Mas A
Bola, hoje, não é mais do que uma pobre folha de couve. É com mágoa que o
digo. Ainda sou do tempo da velha A Bola
– Jornal de Todos os Desportos, compêndio de futebol, com Jornalistas
(escrevo, propositadamente, com maiúscula) notáveis como Carlos Pinhão, Vítor
Santos, Aurélio Márcio, Alfredo Farinha.
Num tempo, é certo, em que as transmissões
televisivas ainda eram raras, era um gosto ler as crónicas dos jogos,
autênticas narrativas, tantas vezes pictóricas, e não meras baboseiras ou
bolsadas de lugares comuns, como hoje acontece.
Os artigos de opinião eram aprofundados e
fundamentados, com excepções, evidentemente, e as notícias eram elaboradas com
profissionalismo, com ética jornalística.
[Nunca me passou pela cabeça que o Alfredo
Farinha fosse benfiquista, tal a sua isenção. Só depois de ‘reformado’ é que
revelou as suas preferências clubistas e, como benfiquista, chegou a malhar
forte e feio no Manuel Serrão, em programas de desporto na televisão. Isto
mostra bem a cepa de que esta gente era feita].
Uma instituição, a velha A Bola. E como esta gente sabia escrever em excelente português!
Também com excepções, claro. Lembro-me perfeitamente de algumas crónicas do
‘pequeno’ Rui Santos (o moço nunca foi ‘grande’, de facto), que, ainda jovem,
entrara em A Bola pela mão do tio, o
‘grande’ Vítor Santos, e acompanhava os jogos dos juniores. As crónicas do
‘pequeno’ exibiam um português de uma pobreza confrangedora (a ortografia era,
certamente, depurada pelos revisores, mas o resto era o diabo). Quando há uns
anos atrás ouvi o ‘pequeno’ a mandar bitaites, sapientemente, sobre o mau
português de Vieira e de Jesus, fartei-me de rir.
É claro que os tempos mudaram. A
concorrência, a crise da imprensa escrita e o enorme desenvolvimento da
internet, as transmissões televisivas, a penetração do ‘dinheiro’ no futebol, a
hipertrofia da influência dos poderes económicos na comunicação, vieram colocar
os media sob grande pressão e
acabaram com a independência e a ética.
Mas nem isto explica a indigência, o
facilitismo e a irrelevância. Em A Bola
de hoje, por exemplo, dois jornalistas que ainda considero respeitáveis, José
Manuel Freitas e José Manuel Delgado, enchem dois chouriços, a partir do
Brasil, um a falar de vinhos e ou outro de cachaças…
Ou, se calhar, até têm razão…
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