sexta-feira, 13 de junho de 2014

O Benfica e as eleições na Liga


O Horizonte é Vermelho!’ tem apenas dois meses de existência. Já aqui foi dito, mas reafirma-se, para que fique bem claro: a única entidade a que este blog jura fidelidade, e de que é absolutamente indefectível, é o Sport Lisboa e Benfica, as suas memórias e os seus valores profundos, sincretizados, de forma suprema e sublime, no lema que os nossos fundadores souberam escolher: E pluribus unum!

Não seguimos, acriticamente, Presidentes, nem oposições. Todos passam, apenas o Benfica permanece. Apoiamos quando achamos que há razões para apoiar, criticamos quando consideramos dever criticar. Sempre, e só, com o intuito de defender o que pensamos ser o melhor para o Sport Lisboa e Benfica. O resto é conversa.

Posto isto, vamos ao tema em apreço: a posição do Benfica em relação às eleições da Liga, em particular, e à dita cuja, em geral.

E começo por dizer que para apoiar ou criticar algo ou alguém, as suas declarações, posições ou atitudes, é necessário compreendê-las. E, para tal, é necessário que haja comunicação, clareza, esclarecimento. A não existirem, resta fazer interpretações. Ora, o campo da ‘interpretação’ é um terreno movediço, propício à influência das ideias pré-concebidas, dos pré-juízos, da atribuição de intenções, etc. Quem não esclarece não pode queixar-se de ser mal interpretado…

Posto isto, não entendi, sinceramente, qual foi a posição do Benfica em relação às eleições para a Liga, nem qual é a posição actual em relação à mesma.

O Benfica esteve, ou não esteve, na génese de alguma das candidaturas, ainda que temporária e condicionalmente? Se sim, o que é que falhou, para o apoio não se concretizar?

Porque é que o Benfica, durante a campanha eleitoral não se pronunciou sobre as listas, explicitando o seu apoio, não apoio ou abstenção?

O comunicado do Presidente posterior às eleições, em vez de esclarecer, veio criar ainda mais pontos de interrogação. E subsistem bastantes.

Por que é que o Benfica não participou no acto eleitoral, votando em branco?

O que significa dizer que “Nestas eleições não houve vencedores nem vencidos”?

Quem é que procurou, com estas eleições “Ajustes de contas com o passado”? E quem que é que “Apenas viu neste acto eleitoral uma oportunidade de promoção pessoal sem qualquer outro projecto”?

O que significa dizer que Mário de Figueiredo, não sendo o culpado da situação a que se chegou, “Também poderia ter assumido uma atitude mais conciliatória”? Com quê? Com quem? Em que circunstâncias? Em que matérias?

O que significa dizer que “Chegados aqui e uma vez eleito o Dr. Mário de Figueiredo temos a obrigação de o ajudar, dando-lhe a oportunidade de com os clubes procurar uma posição conciliatória”? Idem, idem, aspas, aspas?

Já aqui elogiei o Presidente Vieira várias vezes e em relação a vários temas, desde a credibilização e reestruturação do Clube, até a atitudes positivas de liderança, passando pela Benfica TV. Mesmo na área do futebol, Vieira tem vindo a dar passos cada vez mais seguros.

Mas Vieira também tem aspectos menos positivos e criticáveis. Um deles é a sua aparente distanciação em relação aos sócios e adeptos. Vieira não confere importância particular à comunicação com os adeptos, ao explicar-se perante os adeptos. Para além de um imenso público-alvo para os produtos do clube, os adeptos parecem ser, para Vieira, apenas uma ‘massa’, a quem não vale a pena dar grandes explicações, porque não conhecem (nem podem conhecer) nem estão (nem podem estar) por dentro dos meandros, complicados, dos negócios e do futebol e, portanto, não podem, nem devem, saber tudo ou muitas coisas. Ou seja, para a ‘massa’ o que interessa são os resultados. No resto têm que seguir e confiar na Direcção.

Mas os adeptos do Benfica não querem só panem et circenses. Com pão e circo tem sido levada a massa adepta do Porto, há 30 anos, sob as cortinas de fumo do regionalismo ‘anti-sul’ e anti-Benfica, com o clube a ser exaurido de recursos, enquanto o ‘imperador’, a sua entourage e associados, têm enchido os bolsos, distribuindo as sobras pelos lacaios e as migalhas pelos cães.

Os adeptos do Benfica querem perceber e saber como as coisas se passam, como são representados pela sua Direcção. Um clube é constituído por quatro elementos essenciais: i) os valores, memórias, conquistas e símbolos; ii) os sócios e adeptos; iii) as equipas representativas; iv) o(s) território(s). As Direcções, por muito importantes que sejam (e são-no!) são apenas emanações dos sócios, pelo menos nos clubes que ainda mandam nas SAD.

O comunicado de Vieira, acima reproduzido no essencial, é um exemplo de não comunicação com os sócios e adeptos. Aquele comunicado não foi feito para os sócios e adeptos, é um conjunto de recados implícitos ou semiexplícitos, dirigidos para os outros ‘actores’ do meio, dentro e fora do sistema.

Como referi anteriormente, à falta de explicações, restam as interpretações. E, perante o sucedido, pode haver interpretações ‘malignas’ e interpretações ‘benignas’. Para não assustar os mais sensíveis, adianto desde já que, até prova em contrário, opto pelas interpretações ‘benignas’.

As interpretações ‘malignas’ são do género: ‘Vieira não pretende nem nunca pretendeu afrontar o sistema. É amigo do Oliveira, não perde oportunidade de lhe agradecer o apoio que deu ao Benfica. Não vai deixá-lo afundar-se. Apenas pretende entender-se com o sistema. Por isso não ataca as arbitragens. Já apoiou o Fernando Gomes, agora queria um compromisso em torno do Seara, só que a coisa não correu bem. Não quer fazer concorrência à Sport TV. Ainda vai acabar por ceder de novo os direitos televisivos’, etc. etc.

A minha interpretação ‘benigna’ é, com ajuda da imaginação, a seguinte.

Luís Filipe Vieira, na sua procura de reerguer o Benfica, entrou em rota de colisão com o sistema, nomeadamente, em torno do processo Apito Dourado, mas apercebeu-se que os tentáculos do polvo eram demasiado extensos e relevantes, dominando não apenas os meandros do futebol, mas abrangendo também posições chave nos meios de comunicação social, e com fortes penetrações nos sistemas político e judicial.

Vieira convenceu-se de que uma estratégia de ataque frontal estava votada ao fracasso (o resultado do dito processo Apito Dourado seria a prova mais acabada) e optou por uma estratégia e tácticas de ataque lateral.

Por um lado, apostando no desgaste progressivo do sistema, seja por degradação interna, seja por ganho de (alguma) influência ao aproximar-se de aparentes fenómenos de distanciação, como seria o caso de Fernando Gomes. Seja, ainda por uma atitude mais condescendente e ‘atractora’ em relação aos árbitros, deixando de atacar as arbitragens.

Por outro lado, e essencialmente, continuando um caminho de fortalecimento das estruturas do clube, nomeadamente na formação (Seixal), no reforço da equipa de futebol, e das próprias modalidades, ganhando força e ‘poder’ no terreno que verdadeiramente importa: as vitórias e os títulos, que sustentam o clube, alargam o prestígio, a área de influência e o crescimento económico-financeiro.

Só que, como esta última vertente está muto condicionada pela primeira (o poder do sistema), as coisas não correram tão bem como se previa e desejava, e vários títulos foram perdidos à beira da praia.

Porém, e porque nas coisas más há sempre algo de bom, a crise económico-financeira, que teve em Portugal particulares efeitos negativos, veio acelerar os problemas e dificuldades, anunciadas, de um dos pilares do sistema: a Controlinveste/Olivedesportos/SportTV.

E aqui, Luís Filipe Vieira soube ler bem os acontecimentos e colocar as peças em jogo. Atacou, subiu a parada financeira dos direitos televisivos, colocou Oliveira entre a espada e a parede, não apenas pelo valor elevado da proposta do Benfica, mas porque tinha que subir os valores contratuais com o Porto. E, finalmente, dando um forte ‘cheque ao rei’ com a criação da Benfica TV.

Esta jogada comportava riscos efectivos e uma saída vitoriosa implicava, necessariamente, a conquista de títulos. E aqui assume toda a importância a manutenção de Jorge Jesus, no início da época passada.

As conquistas de todas as provas nacionais e a repetição da presença na final da Liga Europa (uma vitória na final pouco mais acrescentaria) vieram, finalmente, dar o lastro e a sustentabilidade, nacional e internacional, de que o clube necessitava, para abrir definitivamente um novo ciclo de afirmação.

O futebol é um campo social e uma actividade social, com dinâmicas de poder (material, simbólico, de status), interesses e ambições, estratégias e tácticas ‘políticas’.

A posição do Benfica no concerto dos seus ‘pares’ é hoje muito diferente da que era no início da época passada. O Benfica tem hoje mais ‘poder’ do que tinha, por força dos títulos alcançados e do êxito da Benfica TV, e maior capacidade de influenciar e aproximar outros clubes da primeira e segunda Ligas.

Neste contexto, continuo eu a interpretar com imaginação, Luís Filipe Vieira avançou na sua estratégia de ataque ‘lateral’ levando o Benfica a assumir uma posição de pacificação, conciliação, convergência.

O objectivo não será substituir o ‘sistema azul’ por um ‘sistema vermelho’ (do meu ponto de vista seria uma desgraça para o Benfica, e uma degradação dos seus valores), mas sim alcançar um sistema de equilíbrio, nomeadamente entre os três grandes, com regras de competição ‘justas’, nomeadamente no que respeita a receitas televisivas e arbitragens.

É que num contexto de equilíbrio ‘justo’ a maior força natural do Benfica (número de adeptos, equipa, estruturas, Benfica TV) seria suficiente para assegurar uma posição de dominância desportiva e a regularidade de um novo ciclo vitorioso.

E aqui entram as eleições para a Liga. É provável que Luís Filipe Vieira tenha ensaiado uma aproximação conciliatória em torno da candidatura de Seara, nomeadamente daquela cuja lista incluía Rui Rangel. Só que o sistema quis forçar a nota e ‘puxou’ Seara demasiado para o seu lado (e ele lá foi, claro…) e quem tudo quer, arrisca-se a tudo perder.

É neste contexto de aproximação conciliatória e ‘influenciadora’ que Vieira não levou o Benfica a estar presente no acto eleitoral. Com esta ausência, Vieira quis dizer ao ‘outro lado’ que não legitimava, com a sua presença, o acto eleitoral e o resultado. Para, logo de seguida, vir, através do dito comunicado, deixar recados e sinais, aos clubes e a Mário Figueiredo, cujo significado, interpreto eu, será algo do género ‘Tenham calma, ninguém perdeu nem venceu, ninguém ganha com um conflito judicial, vamos, juntar-nos à mesa, acertar bases comuns, para avançar no interesse de todos os clubes e do futebol’.

E quais serão estas ‘bases comuns’ que só poderão estar relacionadas com o tema dos direitos televisivos?

Aqui, confesso que já estou cansado de interpretar e imaginar, e não consigo (ou não quero) ir mais longe. Pelo menos, para já.

Termino, voltando à questão inicial. Luís Filipe Vieira (a Direcção do Benfica) tem que comunicar com os sócios e adeptos. É evidente que há estratégias e tácticas ‘políticas’ que não têm que ser reveladas, sob pena de não surtirem efeito. Mas há sempre formas simples e eficazes de fazer sentir aos sócios e adeptos qual é a posição do Clube em questões relevantes, e tranquilizá-los relativamente à defesa da imagem e dos interesses do Clube, evitando interpretações erradas, sejam elas ‘malignas’ ou ‘benignas’.

Não foi isso que aconteceu, uma vez mais, no caso das eleições da Liga, nem foi isso que aconteceu com o comunicado posterior de Luís Filipe Vieira. Durante quanto tempo continuará a não acontecer?

PS: O Campeonato do Mundo começou mal, no que toca à arbitragem. Desgraçadas das equipas que se atravessarem na frente do Brasil (e não só). Os interesses comerciais, nomeadamente da FIFA, e os interesses políticos (prementes) de Dilma Rousseff obrigam o Brasil a estar na final. A continuar assim, isto irá transforma-se num circo, terá dito o treinador da Croácia. Pobre futebol, como é que resistes?

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